domingo, 23 de setembro de 2012

Igreja e Juventude

                                      

O olhar do teólogo
Igreja e juventude
J. B. Libanio
Jornal de Opinião – março de 2006
                  


 A pastoral da juventude tem vivido nessas últimas décadas relação ambivalente de atração e repulsa, de proximidade e distância, de entusiasmo e frialdade. Nos anos 60, a Ação católica especializada no meio secundarista, universitário e operário aqueceu com o sangue jovem a vida eclesial. Contagiou-a o entusiasmo de jovens que praticavam com fidelidade diária o método ver, julgar e agir, ensaiando o que mais tarde seria a teologia da libertação. No movimento de educação de base  a presença jovem contribuiu para o despontar das CEBs. Nem faltou o toque da Ação Católica na gestação da própria Conferência dos Bispos. Tudo o que de novo brotava na Igreja levava a marca juvenil.
                   Mal entendidos, conflitos dolorosos conduziram ao estremecimento das relações da Igreja oficial com a JEC e JUC até sua extinção. Vieram novas expressões de movimentos juvenis. Já não tinham a profundidade e consistência da experiência anterior. Vinham da matriz dos Cursilhos com entusiasmos afetivos e prática de menor densidade. Foram ondas abundantes que rapidamente se desfizeram e hoje não passam da suaves marolas.
                   Praticamente os novos movimentos religiosos, alguns de nascentes européias, outros já gerados entre nós monopolizam, na situação atual, a presença juvenil na Igreja. Diferentemente da Ação Católica e mesmo da marca Cursilho, os jovens vivem dos, nos e para os movimentos. Lá recebem os incentivos, as consignas, a espiritualidade, a formação. Comprometem-se com eles e assumem-lhes a missão. João Paulo II confiara-lhes a nova evangelização, acreditando em seu fervor, coragem e vigor.
                   O vazio da pastoral da juventude acontece em nível de paróquia e Igreja local. Os grupos de jovens nascem e morrem como a erva do campo, na metáfora de Jesus. Não lançam raízes.  As suas sementes secam ao primeiro golpe de sol quente do verão das paixões ou são sufocadas pela ondas virtuais que povoam a imaginação e afetividade do jovem, mas fora dos encontros reais dos grupos e ações pastorais.
                   O Brasil mergulha com rapidez assombrosa no mundo eletrônico. As estatísticas anunciam que 100 milhões de brasileiros em breve terão celular. E serão milhões também a acessar a Internet. Já é tempo de pensar-se numa inteligente, conseqüente e ampla pastoral midiática. Que ela tenha nela mesma consistência tal que passe ao jovem elementos fundamentais de formação religiosa e não simplesmente informação.
                   O desafio consiste em transformar pedagogicamente os conhecimentos oferecidos por sites religiosos em momentos de reflexão e aprofundamento espiritual. A informação necessita superar o mero nível de comunicação de conhecimento para provocar uma busca e uma ulterior reflexão.
                   Num segundo momento, o solitário encontro com a telinha informativa precisa transformar-se na criação de grupos de debate, de troca de experiências no campo espiritual. E assim se criam grupos mais estáveis de jovens, vinculados ainda por laços eletrônicos.
                   E finalmente, num terceiro passo, aquecido o motor da afetividade pela midiática, que se caminhe para o verdadeiro campo da formação: os encontros reais com agentes de pastoral. Os grupos virtuais deixam o espaço midiático e descem ao real, onde se forjam grupos de vida, de formação.
                   O curso de crisma que existe nas paróquias tem condições de transformar-se num campo experimental da nova pastoral juvenil. E assim a Igreja disporá de nova maneira para fazer-se presente com mensagem evangelizadora na formação dos jovens.

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